A Lua brincava com os teus cabelos, tornando-os aurais, divinos. Sem pudor, remexeste a areia e elevaste um pequeno punhado à altura do rosto. Soltaste o tempo pouco a pouco e doseavas cada momento para que fosse único, melhor que o anterior. Um olhar infantil cruzou-se com o meu: "O tempo corre. Mas tu voas". E de mais não fui capaz.
"Desumana", ocorreu-me quando te vi à beira da água enfrentando a Lua. Eras demasiado perfeita para fazeres parte desta espécie inacabada. E inacabados foram também os meus pensamentos, que se esfumaram quando te vi naquele quadro tão bem finalizado.
Foi então que começaste a andar ao longo da beira-mar. Entre olhares inocentes e sorrisos leves, ias pensando na vida, enquanto que a suave ondulação te tocava nos tornozelos e te prestava vassalagem. A Deusa de tudo. E de mim.
Subiste até à areia húmida e, sentada, ficaste apreensiva. Assustei-me: nada podia interferir naquela imagem. Mas de repente levantaste-te e fizeste o teu dedo angelical dançar na areia. Deslizava, pintava sempre com confiança e uma sensualidade pura e aliciante. Escrevia, e tu andavas para o lado, deixando-me um trilho de curiosidade expectante.
Enquanto reorganizavas genialmente o alfabeto, levantei-me e caminhei na direcção do teu rasto de perfume. Só me lembro de começar a ler. A partir dai, li, mas apenas amei. Li, até ao fim, e amei ao infinito.
Ainda sob o efeito da overdose de emoções, encontrei-te como um ponto final, para encerrar tal obra. Tu, sentada aconchegada nos joelhos, convidavas-me a fazer parte de ti. Aceitei. Sentados para o oceano; intemporais.
As palavras levou-as o mar.
Mas o amor ancorou.
Obrigado Marta ;)
I am...: em final de férias, utópico
para ler ouvindo: Damien Rice - The Blower's Daughter